Currículo de Dança e Ritmo
... porque nasci
nasci para bailar... (João Donato -https://www.letras.mus.br/nara-leao/804727/)
Meu ser-que-dança, preso-enclausurado por grades culturais — família rígida e convenções maritais — foi finalmente liberado certa vez, com força e alegria, pelo Frevo-Mulher cantado pela Amelinha. O encontro com o ritmo, a música e o corpo de um cavalheiro que sabia dançar foi uma virada sem volta que mostrou um novo vivenciar.
Parece que Elaine-mulher só apareceu aí, depois de ser namorada-amada, esposa e mãe, "Amélia" dedicada que depois dum tempo, diminuída, aproveitou a oportunidade para cruzar a passagem estreita do buraco da agulha do 'siliga!' (religare...).
A festa onde isto aconteceu foi uma celebração universitária organizada por uma turma de pós-graduandos do Nordeste, regada a muito forró, suor, cerveja e DANÇA!!! (*)
O "rêio" rebentado, mesmo depois consertado e reforçado, não foi suficiente pra segurar o movimento natural e intrínseco de uma alma que tem um corpo moreno e saudável.
E o eterno deus mu-dança fez-se presente daí pra frente, passando por cima de preconceitos e preceitos e também de juras feitas à sombra da ignorância dos movimentos da vida maior, criando por si só uma trajetória animada, bem-aventurada e cheia de desafios.
Fui bailarina e atriz na peça musical 'Pedro e o Lobo' — resultado de uma experiência de laboratório de dança na Unicamp — com uma passagem pelo palco do Theatro Municipal de São Paulo, além das apresentações (todas acompanhadas pela Orquestra) no Teatro Municipal de Campinas. Houve também apresentações semi-profissionais de dança do ventre, e outras com um grupo de temas folclóricos; dentre estas uma Dança na Praça, gostosura assistida por mãe e filhos e registrada na 1ª página de um jornal da cidade.
Depois disso, o mundo profissional 'sério' e vários momentos de crise existencial amorteceram a vida do meu ser-dança, que semi-aprisionado novamente, rugia de dentro da pantera negra da poesia do Rilke (**) e escapava, depois de exaustivas negociações domésticas, para festas duma época animada, desvairada e cheia de novidades e encontros.
Foi assim que a essência arranjou um jeito de manter-se viva e, teimosamente como o Amor e a grama, poder rebrotar sempre que chuvas benfazejas e dançantes voltavam a umedecer a terra ressequida e gretada da pantera enclausurada.
Tempos depois, mais introspectiva, aprendi também a graça de movimentos mais calmos e ordeiros, por meio de Tai Chi Chuan e algumas Danças de Roda Sagradas.
E outros tempos de dança "mundana' voltaram a acontecer, desta vez dança-sozinha, sem par, embora muitas vezes aparecesse um deus-apolo luminoso pra trocar a energia de eventuais companhias do lado mais escuro do conviver.
Atualmente, a paixão reinante — pantera madura liberta totalmente — é a dança de salão, praticada com o fervor duma religião, em bailes freqüentados num espírito cooperativo com os caminhos estreitos do tempo, acabando com a saudade do movimento perpétuo. (Isto em companhia constante duma amiga igualmente devotada, que cultua também outras formas de manifestação de arte refinada.) Todos os cavalheiros são acolhidos, não há porque enjeitar nenhum — representantes que são da força masculina do movimento e da ação. É certo que alguns têm a dança um tanto contida (panteras não soltas ainda), e outros são pouco educados, lado animal selvagem e básico em demasiado. Muitos são só-ritmo, outros têm floreios e conduções elaboradas, quase complexas de acompanhar. Mas todos são quentes e, de corpos bem encaixados, muitas vezes é possível sair do chão em deleite sonoro-encantado. Juntos, faz-se o aprendizado de lidar e harmonizar a riqueza e a diversidade dos infinitos ritmos de Ser Humano.
Meu lado primal, batizado certa feita de Índia-Dança-com-Todos, se delicia (e muitas vezes sofre junto também) com a dança entre o divino e o profano, entre o animal e o humano que existe nas multidimensões da Vida.
Numa dessas múltiplas vertentes, juntando saúde de meio ambiente e vivente, apareceu o projeto Dança de Salão, Educação e Segurança Local. Neste, o propósito inicial é utilizar a metáfora e a prática da dança como forma de desenvolver e aprimorar a inteligência relacional.
(Elaine Vieira, equinócio de outono, 2007)
Este projeto evoluiu, e Juntos Pela Educação, pequenas mu-danças foram sendo inseridas no bairro e na cidade em que habito.
Tempos depois mudei-me de bairro, o projeto terminou, missão cumprida com as pessoas daquela localidade. Mas o dançar dominical continua, com o mesmo gosto e disponibilidade...
(outubro de 2010)
E mais 'tempos depois', encontrei um artigo do professor de dança - que foi o parceiro da época do projeto Juntos pela Educação -, que continuou na mesma linha, bacana poder 'ver' como as coisas se desenvolvem e se tornam realidade (um artigo, dentre outros dele):
Os benefícios da prática da Dança de Salão
(outubro 2018)
... e eis que se não quando, nalgum momento perdido no tempo, apareceu ‘o par predileto’, outro devotado praticante da dança de salão.
Maneiro, jeitoso, competente e gostoso no conduzir e saber me acompanhar, foi me ensinando muitos passos, pazciente e respeitoso, sem nunca deixar de produzir um certo frisson… Meu lado pantera, indócil, foi finalmente se entregando a uma forma de me conter sem me limitar, de obedecer sem me sentir diminuída, embora ‘o perigo’ continuasse rondando e dançando em torno e além de nós. Delicioso e tenta-dor, como todo pecado… Afinal, se este não fosse tão bom, ninguém cometeria, pois é sabido que vai ‘dar ruim’ depois (“deus me livre, mas quem me dera”…). A matur-idade ajuda – hormônios de menos e experiência de mais –, e só acrescenta à grandeza da vida em todas as suas manifestações, sem sofrência, na paz. Espiritualidade presente para co-laborar na mu-dança, acolhimento, aceitação, aprendizado de aliança avançada e de estados de equilíbrio em ascensão. Amém, axé, arrôu!; abraço paradoxal de karma e dharma.
Gratidão imensa por esta vivência, representada por 3 esferas douradas dos ‘3 mundos’ interconectados: o do meio (dos encontros e da dança), o das alturas, e o das baxuras...
Ao som desse bolero
Vida, vamos nós
E não estamos sós...
(Gonzaguinha - https://www.letras.mus.br/maria-bethania/164686/)
02.02.2020, odoyá Iemanjá!
(data capicua, a única do século)
(*) O NE, na Sagrada Roda da Donzela das Estrelas (conhecimento codificado da tradição nativa norte-americana) é a direção da "criação da própria dança, baseada no sonho pessoal, alerta e pronto, que favorece escolhas conscientes", isto quando a energia pessoal está 'desperta'. Quando 'dormindo', o que acontece é "auto-sabotagem, auto-terrorismo, auto-piedade (muitos projetos com pouca realização), o que gera culpa e doença." (Donna Talking Leaves e Mats Aguila, 1991)
(**) The Panther (A Pantera, com uma imagem do filme 'Awakenings' — Tempo de Despertar — de Penny Marshall, com Robert de Niro e Robin Williams)
Rainer Maria Rilke
De percorrer as grades seu olhar cansou-se
e não retém mais nada lá no fundo
como se a jaula de mil barras fosse
e além das barras não houvesse mundo.
O andar macio dos passos fortes
na repetida dança ritual assim traçada
é um movimento da força em torno ao centro
de uma grande vontade atordoada.
Mas por vezes a cortina da pupila
ergue-se sem ruído − e uma imagem então
entra e flui pela musculatura tensa e tranqüila
mergulha e se desvanece no coração.
[His vision, from the constantly passing bars,
has grown so weary that it cannot hold
anything else. It seems to him there are
a thousand bars, and behind the bars, no world.
As he paces in cramped circles, over and over,
the movement of his powerful soft strides
is like a ritual dance around a center
in which a mighty will stands paralyzed.
Only at times, the curtain of the pupils
lifts, quietly. An image enters in,
rushes down through the tense, arrested muscles,
plunges into the heart and is gone.]
anos depois, este Animal ainda me causa impacto / reconhecimento! Dignidade, no vídeo comovente sobre um Black Leopard... http://www.
dizzyturtle.com/animal-communicator-anna/
Me faz lembrar de mim... (25 05 2015 - Humano Cósmico Amarelo)
E num dia especial por 2 motivos, pessoal e nacional (07 10 18 - Vento Galáctico Branco) -, num sonho uma pantera negra apareceu:
uma energia maravilhosa no meio da vegetação, vou até ela sem medo. Percebo que está velha, magra e depauperada, pedindo auxílio pra fazer a passagem. Um homem que estava comigo se dispôs a prestar este serviço, eu e outra mulher saímos de cena. Depois, me encontro com ele, que havia feito um pingente com uma das presas dela.
Na realidade 'aqui', apareceu uma Cigarra na varanda enquanto eu escrevia sobre isto. Temporada de mu-danças, com a ajuda de "som"!
Guglando, descobri algo curioso: a espécie pantera negra não existe. A pantera é, na verdade, o grupo de felinos em que se encontram o leão, o tigre, a onça e o leopardo. É um animal brasileiro, uma onça preta! Mas há controvérsias...
Que bonita história Elaine, de busca,luta e conquista da liberdade. E eu que adoro dançar, justamente pensando em viver a dança de salão
beijo
Toninho